Massacre no Sertão - Caldeirão do Beato Lourenço
O
Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, também conhecido como Caldeirão do Beato
Lourenço, foi um movimento popular que ocorreu no Crato, Ceará, na década de
1920.
Natural
da Paraíba, José Lourenço Gomes da Silva, chegou em Juazeiro do Norte, onde
conseguiu a simpatia de Padre Cícero. O Beato Lourenço se instalou no sítio
Baixa Dantas, onde, juntamente com vários romeiros, lavravam a terra,
conseguindo obter produção de vários produtos alimentícios. Padre Cícero passou
a encaminhar os retirantes que chegavam à Juazeiro do Norte para o local,
muitos fugindo dos castigos da seca e da exploração dos
coronéis/latifundiários.
Em
1921 Padre Cícero entregou um boi, chamado Mansinho, que foi um presente de
Delmiro Gouveia, para se cuidado por José Lourenço. Os inimigo de José Lourenço
aproveitaram isso para espalhar o boato que o beato Lourenço estava
incentivando a adoração ao boi, como um santo. Com o intuito de “evitar o
fanatismo religioso”, a mando de coronel Floro Bartolomeu, José Lourenço é
preso, o boi Mansinho foi morto e em 1926 as terras da comunidade foram
vendidas e todas as famílias expulsas do local.
Padre
Cícero resolveu alojar as pessoas na fazenda chamada de Caldeirão dos Jesuítas,
na cidade do Crato. O local cresceu, chegando a ter 18 mil habitantes,
muitos retirantes viam o local como um
refúgio do flagelo da seca de 1932. Os flagelados preferiam aquela fazenda aos
"currais humanos" montados pelo governo, que serviam como campos de
concentração. Os poderosos ficaram, novamente, intimidados.
Grupos
políticos da região passaram a acusar José Lourenço de ser comunista. Após a
Intentona Comunista de 1935, onde houve levante em Natal-RN, a impressa local
passou a anunciar o Caldeirão como um foco da resistência comunista, que
deveria ser reprimido.
Sem
o apoio de Padre Cícero, morto em 1934, a comunidade passou a viver o risco de
represália. Que ocorreu no final de 1936. Forças do governo atacaram a
comunidade, expulsando os habitantes do local e incendiando as casas. Contudo
José Lourenço conseguiu fugir. Na busca por José Lourenço e “seus fanáticos”,
um grupo de policiais sofreu uma emboscada, e na luta que se seguiu cinco
policiais e três seguidores do beato Lourenço morreram.
A
repressão contra o movimento foi rápida. Enquanto as forças do governo
avançavam por terra, três aviões bombardeavam e metralhavam o “reduto dos
fanáticos”, pondo fim ao movimento. Não há um número exato de mortos durante
toda a repressão, os números oficiais dão conta que 400 pessoas morreram, mas há
estimativas que cerca de mil pessoas foram mortas. O beato José Lourenço
sobreviveu, vindo a falecer de peste bubônica, em 1946, numa fazenda em Exu,
Pernambuco. Seus seguidores levaram o caixão, a pé, até Juazeiro do Norte, onde
foi enterrado no cemitério do Socorro.
Muitos
sobreviventes do Caldeirão do Beato Lourenço fugiram para Bahia, e na região de
Casa Nova deram início a outra comunidade, que também foi reprimida, chamada
Pau-de-Colher.
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