“Vou-me embora para Parságada”: o sonho de boa parte dos brasileiros"
Prof.ª Joyce Oliveira
Redação d'O Historiante
O que este belo poema
de Manuel Bandeira diz sobre nós? Fala
sobre um paraíso, tema este muito recorrente no imaginário dos sujeitos
históricos, mas hoje aponta, sobretudo uma sociedade raivosa em ebulição no
Brasil. Em pleno 31/03/2015 no qual relembramos 51 anos do Golpe Militar, o
projeto de redução da maioridade penal é aprovado pela Comissão de Constituição
e Justiça da Câmara dos Deputados. O que isto aponta? A princípio, pode-se
dizer que é uma resposta às demandas populares que sentem que a Justiça de
nosso país não “pune” corretamente os meliantes. Mas como eu disse, só a
primeira vista.
Tomado como ponto de
partida uma reflexão feita por uma grande companheira, se colocarmos uma lupa
(o que nos permitirá ver tudo com mais precisão), notaremos um discurso
conservador que nos últimos anos vem despontando (ou sempre esteve latente?) no
cenário da política brasileira e usar a memória deste dia como aprovação para uma
proposta de emenda a Constituição dessa categoria só aponta a sobrevivência de
um legado ditatorial que tinha como característica negar os problemas e punir
coercitivamente ou simbolicamente os que apontavam tais questões.
Um Estado que não
cumpre com suas obrigações com a população (recordamos aqui a ideia do Contrato
Social) de alguma maneira tem que responder aos seus contratantes e como
sabemos a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. E este lado é do homem
(ou melhor menino) negro pobre que não teve acesso à educação, que muitas vezes
só conhece o Estado pela Polícia e pela morte que ela representa nas ruas em
que eles habitam. E os bandidos para ele, na verdade, são seus heróis, mas o
Robin Hood não pode ser negro e nem
favelado. Para a maioria da população, eles são “vagabundos” mesmo.
Um Estado que
escravizou, libertou, mas não cuidou dos libertos e dos livres sempre procura
aponta a famosa “meritocracia” como a chance de entrar nesse seleto mundo do
opressor. Esse processo deixou no Brasil uma herança senhorial que aparece na
polêmica da regulamentação do trabalho doméstico, no preconceito que incidem
sobre os cabelos, sobre os corpos dos afrodescendentes. Um preconceito que se
tornou um verdadeiro estigma.
É muito mais fácil
prender do que cuidar da educação da população e principalmente para esta
parcela da população que teve um PROCESSO DE EXCLUSÃO HISTÓRICA. Por isso que
as cotas das universidades públicas são temas polêmicos, a regulamentação do
trabalho doméstico. Os senhores e as sinhás deixaram que os antigos
escravizados fossem embora desde que eles não saíssem da linha ou quisessem
melhorar suas condições de vida. Deixar que eles sobrevivessem como pudessem
foi e ainda é uma das formas de opressão formuladas pelo senhorio.
A sociedade
“civilizada” aplaude os justiceiros, a “justiça com as próprias mãos”, mas se
horroriza com as verdadeiras carnificinas que ocorrem nos presídios brasileiros
que em vez de ‘corrigirem’ ou ressocializar se transformaram em fábricas de
morte, de traumas e de meliantes mais perigosos.
Bom sujeito, vá para
Parságada!! E feche os olhos para os que estão condenados por terem nascido no
lugar errado, com a família errada. Não à redução da maioridade penal!!!
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