Resposta de um professor bem acordado.

Texto enviado a nossa redação pelo Prof. Ms. Jorge Luiz Monteiro Peçanha em resposta a coluna de Gustavo Ioschpe (Revista VEJA) intitulada: "Professores, acordem!" que pode ser consultada no seguinte link:  
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/professores-acordem?utm_source=redesabril_veja&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_veja&utm_content=feed&



Caro Senhor Gustavo,


Quem faz o discurso de que nossa luta é apenas por salários são vocês, mídia vendida a um projeto muito claro de educação: PRIVATIZAÇÃO. Sugiro que o senhor se informe melhor sobre a imensa pauta de reivindicações de nossa categoria e que vá visitar às escolas, e ver com os próprios olhos, o nível de precariedade das mesmas antes de falar e defender, com tanta veemência , coisas das quais não tem ciência.

Resolvi mais uma vez aderir a greve e a última coisa que pleiteio é o aumento de salário. Recentemente terminei o mestrado e sem um plano de carreira decente o único incentivo que consegui foi um aumento de cerca de 200 reais, portanto percebo que um plano de carreira justo, equiparado a um plano de carreira federal deveria encabeçar as negociações visando realmente qualificar os profissionais da educação. 

O professor que hoje tenta se especializar com um curso Latu ou Strictu Sensu encontra mais empecilhos que motivações nas esferas públicas de ensino que hipocritamente insistem em falar em meritocracia. Mérito real implica em qualificar o professor para que este se aperfeiçoe e desempenhe seu ofício de forma mais eficaz. A meritocracia da forma como é feita no Rio de Janeiro e em outros estados do país, apenas mascara um modelo sujo de educação que transforma alunos em estatísticas para fazer com que nossos digníssimos governantes mostrem números enganosos para os bancos mundiais.

Tente dar uma aula para uma turma de 40, 50 alunos onde mais ou menos 30 não sabem ler e escrever de forma adequada. E a cada ano ano somos forçados a aprovar o maior quantitativo possível de alunos semianalfabetos com o intuito de mascarar a completa falência de nosso sistema educacional, implementando um neoliberalismo burro, que ao invés de estudar as particularidades e idiossincrasias de um país de dimensões continentais como o Brasil, insiste em fazer comparações simplistas com outros países que tem realidades e epistemologias próprias e que, por mais que coincidam com alguns aspectos das realidades brasileiras, não servem como paralelo exato do que acontece dentro do nosso país.

Entro em greve agora porque, dentre muitas coisas, quero um plano de carreira justo, menos alunos por sala de aula (para que eu consiga realmente detectar os problemas apresentados por cada um), estrutura física nas escolas que me permita dar uma aula sem correr o risco de um pedaço do teto cair sobre minha cabeça, o fim desta forma de meritocracia que apenas transforma o professor em um mero peão dos interesses empresariais das grandes corporações que regem a forma de gestão lamentavelmente aplicada em nosso país.

O que eu realmente não preciso, enquanto professor, é da opinião de gente que não sabe o que é uma sala de aula, achando que pode julgar o papel dos profissionais de educação. Pitágoras costumava dizer: "Educai as crianças e não será necessário punir os homens". Sem educação de verdade, não há possibilidade de evolução pessoal e consequentemente as possibilidades de sucesso profissional também se limitarão. Bem, mas sempre há a marginalidade não é mesmo? (Ironia "Mode ON") Observe os níveis de violência, cada vez mais alarmantes no Rio de Janeiro. Como professor, creio que tenho uma responsabilidade social e por isso faço GREVE!

Jorge Luiz, presente!

Jorge Luiz Monteiro Peçanha
Mestre em Literaturas de Língua Inglesa pela UERJ
Professor das Redes Estadual e Municipal do Rio de Janeiro e da Cultura Inglesa.

Comentários

Liliane Damico disse…
Ótima resposta. A Veja não está publicando os comentários na coluna, pura censura prévia. Este Sr Gustavo Ioschpe é só mais um sensacionalista.
Unknown disse…
Muita pena dos ignorantes disfarçados de intelectuais, consultores de "importantes organizações não-governamentais ligadas à área de Educação" (Wikipedia)! De cima de seu pedestal, vomita lugares-comuns e nunca, nunca saberá a verdade!
Aline Martins disse…
Sim Liliane, eles não estão publicando os comentários. Acho que deve ter chovido comentários questionando este senhor e ele não tem nem a dignidade de respondê-los.
Aline Martins disse…
Exatamente, sabemos muito bem quais os interesses que estão por trás do discurso destes senhores. Recomendamos a leitura de outra crônica nossa: http://historiantebrasil.blogspot.com.br/2013/12/a-meritocracia-na-educacao-e-farsa-dos.html
VOVÓ MARLENE disse…
Responder este cara é dar status á ele é tudo que ele quer....este cara não deve estar agradando muito o seu patrão no que faz, então resolveu falar de um assunto muito sério, mas em condições de criar polêmica para mostrar serviço, ele sabe que gente como ele não pode sair às ruas para mostrar que existe então que se mostra assim falando mal de profissionais mais necessários na formação de uma nação. Nós professores sabemos o valor que temos.

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