Apesar da Marcha e do arrastamento, amanhã há de ser um novo dia para a democracia brasileira...

Tatiane Duarte
Redação d´O Historiante



http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-03/marcha-da-familia-no-rio-tem-briga-entre-grupos-pro-e-contra-intervencao

No último sábado, diversas cidades brasileiras foram ocupadas pela Marcha pela família com Deus, uma versão requentada da Marcha da Família com Deus pela Liberdade de 1964. No dia seguinte, os principais veículos de comunicação veicularam o "fracasso" deste projeto retrógrado. Não explicaram muito o porquê. Fato é que os manifestantes reivindicaram uma intervenção militar, pois, a democracia brasileira (com seus 25 anos) estava ruída. Ah, a juventude, inconsequente... Os marchantes também falaram em nome da moral e dos bons costumes - aquela ordem expressa na nossa bandeira e posta em prática de tortura e censura pela ditadura civil-militar dos anos 60  - se opondo ao comunismo vigente no país (acho que eles queriam dizer consumismo...). Alimentando assim a chama torpe da direita bem a gosto das elites canarinhas. 

 

Embora eles não tenham sido muitos (no Recife uns 10, em Brasília foram uns 50, em Porto Alegre também, em Florianópolis 3, em São Paulo uns 500, no Rio, uns 150) suas ideias possuem muitos adeptos,  neo conservadores com roupas velhas. De todo modo, o lance era reviver 64, por isso, marcharam pela volta ao tempo das torturas (ele acabou???), ops, da ordem. Calma leitor, muitos marcharam também contra os abusos cometidos pela ditadura civil-militar e pelo direito da nossa democracia se tornar uma adulta comprometida com a igualdade social, com a justiça e com os direitos humanos. E na internet, o tom era de deboche, mas, as ideias são preocupantes.



Os marchantes de ontem são como aqueles que ferozmente atacam pessoas "esquerdistas" nos fóruns da internet sem qualquer chance para o diálogo. Este movimento "anti" todos os seres e práticas consideradas avessas ao modelo de família, sexualidade, gênero, liberdade e direitos democráticos tem ocupado cada vez mais as redes sociais fomentando polêmicas. Sobretudo, estas ideias do século XV, têm sido alimentadas (quando não aprovadas) por um Congresso de cristãos hipócritas que clamam por Deus e por uma moralidade defensora da família, dos cristãos, da ordem e do progresso. Não gostam (muito) de democracia. O Reino da liberdade (especialmente a de expressão, ops...) e da não tortura é para os salvos, neste Reino não tem espaço para (des)viados, putos, degradados, marginalizados, estuprados, humilhados, arrastados, executados. Em seus cartazes, não se lia aclamação pelo fim da desigualdade social, da miséria e da fome ou o fim da violência contra a população negra neste país. (Vejam o estudo http://www.mapadaviolencia.org.br/). 


Seus pleitos excludentes e escrotos (me perdoem, mas relativismo tem hora) são a-históricos e representam tudo o que esta Nação, no sentido mais lato possível, não necessita. Visto que, dias antes, a polícia militar do Rio de Janeiro arrastou uma mulher pelas ruas do Rio. Diferentemente das vítimas da ditadura de 64, Cláudia, sim, ela tem nome, não teve seu corpo escondido, foi exposto, revelado. Mãe, mulher, negra e pobre é mais uma vítima do Estado fluminense, assassino e ditatorial (olha aí os amiguinhos dos marchantes), que se nega a punir seus policiais cujas fichas são mais corridas do que a de muitos "bandidos" que se vangloriam em executar. Sim, a polícia é preparada para matar (quem não entendeu Tropa de Elite tem problemas com interpretação de texto), a certidão de óbito é assinada pelos comandantes de uma instituição que é fruto, vejam, da "revolução gloriosa de 64". Ah, estes marchantes (ou eles são pérfidos, sonsos ou burros, talvez sejam tudo isso e mais um pouco). Eles querem militarização, eles reverenciam práticas de torturas, assassinatos e arbitrariedades. (Vejam a reportagem


Herdeiros das mesmas páginas sombrias, estes acontecimentos arrastam nossa humanidade, a executam. Aqueles policiais não arrastaram Claúdia - sem nome, não cidadã - sozinhos, estávamos todos com eles. Sim gente de "bem", voces também! Cláudia teve sua morte exposta em todos os noticiários da TV. Mas, seu nome foi ocultado dos noticiários tornando-a ninguém, a "arrastada". Afinal, se na democracia Cláudias cujos corpos negros  e favelados podem ser arrastados, talvez seja por que nossos marchantes tenham alguma razão ao tentar reavivar o regime militar: nosso passado nos porões do DOI-CODI e os corpos ocultados dos "comunistas" ainda são nossa história não revelada. Mais do que isso, são nossa história de injustiça com todos aqueles que se opuseram ao regime ou com  aqueles que nem fazem parte dele. Cláudia (e tantos outros nomes omitidos pelos anais da história) também não terão justiça enquanto nós corroborarmos com uma história de tortura. E com uma memória de dor. 


Talvez seja hora de nossa democracia sair da juventude e amadurecer, é hora de marchar pela democracia (vide todo um projeto de restrição de liberdade, num tom AI-5, como a lei antiterrorista http://laurocampos.org.br/2014/02/lei-antiterrorismo-e-quase-uma-repeticao-da-epoca-da-ditadura-civil-militar-diz-presidente-do-dhh/). É hora desta sociedade ser democratizada sem corpos soterrados e sem corpos arrastados a-nominalmente e expostos como carnes podres... 

É hora de toda nossa gente ter rosto e nome! É hora de todos sermos cidadãos! Pronunciemos nossos nomes a esta Nação!

Cláudia da Silva Ferreira está presente! 




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