Copa do Mundo Brasil 2014: a invenção de um legado
Prof. Carl Lima
Redação d'O Historiante
Salve, salve, testemunhas oculares, sentimentais e, quase
sempre, amantes passionais de nosso futebol. Escrevo hoje para aqueles que são
considerados fanáticos, malucos e viciados, mas que, ao mesmo tempo, não são
alienados; aqueles que, de alguma maneira, buscam superar
a máxima tupiniquim, de que os tais "chatos" intelectuais de
esquerda, ao se apropriar da teoria marxista, reverberam: "O futebol
é ópio do brasileiro". Chamo atenção para a relação indecorosa entre FIFA,
CBF e COL com os governos das três esferas - federal, estadual e
municipal - atrelados às sedes para a organização da Copa do Mundo de 2014. Uma
relação que se caracteriza pelo desrespeito à nossa história e singularidade
cultural, que se realiza a partir de tentativas explícitas de controle e
silenciamento das ações e atos da população, numa espécie de
neo-colonialismo contemporâneo. Para dar conta disso, ficou estabelecido
um protocolo de exigências que, além de estabelecer regras para
o financiamento e desenvolvimento das obras, é marcado pela imposição,
principalmente no que concerne aos costumes e comportamentos. O discurso/desejo
dos fiscais europeus, com destaque para o Senhor Jerome Valcke - secretário
Geral da FIFA - centraliza ações na construção de um ambiente
higienizado, asséptico e pacífico para o recebimento daqueles (os turistas)
para quem, de fato, um evento desses é direcionado.
Por acaso, vocês, amantes do futebol, estão sabendo que o
referido acordo entre os “cavalheiros” e “damas”, prenhes de
boas intenções para o sucesso do evento, está proibindo expressamente
festas populares durante a realização, tanto da Copa do Mundo, quanto do evento
teste-mor, a Copa das Confederações? Isso equivale dizer que algumas das
cidades-sedes como Salvador, Recife, Fortaleza e Natal não poderão comemorar
as festanças dos “cumpades” Antonio, João e Pedro. Esse é justamente um período
em que a tradição das fogueiras, guloseimas e do arrasta-pé supera o
protagonismo do futebol nas plagas nordestinas. Em Salvador,
algumas reclamações foram feitas, mas a Secretaria de Controle e
Ordenamento do Uso do Solo do Município (SUCOM) justificou que essa é uma
medida padrão que busca valorizar os anunciantes e patrocinadores do evento em
torno dos circuitos oficiais. Segundo o órgão, outro evento de grandes ou
médias proporções poderia desviar as atenções do público. Em Belo
Horizonte, a prefeitura baixou um decreto no dia 07/04/2013, que traz novas
regras para aprovação de licenciamento de possíveis eventos no período de 1º de
junho a 7 de julho deste ano. Além dos trâmites já existentes para realizar as
festas – como detalhes e impacto das mesmas – os empresários terão que mostrar
à prefeitura um plano de deslocamentos ou rotas presumíveis do público alvo, meios de divulgação do evento,
formas de publicidade e os patrocínios. Assim, o licenciamento só será
concedido após análise do Comitê Executivo Municipal das Copas (reportagem sobre o caso mineiro).
Permita-me mais um exemplo, esse ainda sem uma justificativa. Está proibida a venda do acarajé, iguaria afro-brasileira, considerada como bem cultural de natureza imaterial pelo IPHAN, na Arena Fonte Nova e num raio de 2km de seu entorno.
Permita-me mais um exemplo, esse ainda sem uma justificativa. Está proibida a venda do acarajé, iguaria afro-brasileira, considerada como bem cultural de natureza imaterial pelo IPHAN, na Arena Fonte Nova e num raio de 2km de seu entorno.
Mas, fiquem “calmos”: as regras do acordo firmado e
chancelado pelos interesses manipuladores da FIFA e aceito prontamente pelo COL
(Comitê Organizador Local) não se restringem apenas ao campo da proibição, elas
agem também no que concerne à liberação. É o que está ocorrendo com
a liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios - durante o
evento - graças à "vontade" comercial de uma cervejaria
patrocinadora. Essa medida trai duplamente as leis brasileiras. Ignora o Decreto nº 6.117, de 22 de maio de 2007, que
normatiza a política nacional no que se
refere ao uso do álcool, no qual no seu anexo I, definiu como uma de suas
diretrizes:
Impõe-se também, sobre um cambiante mas existente Estatuto do Torcedor (Lei Federal nº 10671/03) e o seu complemento a partir do protocolo assinado entre o Ministério Público e a CBF em 25/04/2008, com o objetivo de diminuir a violência nas praças esportivas locais, ficando estabelecido 8 regras, nas quais destaco:
a) São vedados o
consumo e a venda de bebidas alcoólicas no interior dos
estádios que sediem eventos esportivos decorrentes de competição
coordenada pela Confederação Brasileira de Futebol, antes e durante as
partidas;
b) Devem-se
providenciar as medidas necessárias para evitar que alguém adentre a
qualquer dependência dos estádios que sediem eventos esportivos
decorrentes de competição coordenada pela Confederação Brasileira de Futebol
trazendo consigo bebida alcoólica;
c) Qualquer pessoa
flagrada consumindo bebida alcoólica no interior dos
estádios que estejam sediando eventos esportivos decorrentes de
competição coordenada pela Confederação Brasileira de Futebol deve ser
imediatamente retirada de suas dependências.
Só que tudo já relatado até aqui ainda é pouco, aficionados pelo
esporte bretão! O mais perigoso ainda está por vir. Uma "cruzada" de
estratégias impositivas que visa a aceitação do público geral, permeado com o
maniqueísmo do "Ame-o ou Deixe" e regado com um nacionalismo
chauvinista de quinta categoria, já anunciou os primeiros capítulos. Contando
com o apoio massivo daqueles meios de comunicação de sempre e com aquela
categoria de artistas, que nos últimos 15 anos comandam, a toque de
quadrilha, a produção cultural brasileira, num fisiologismo aviltante com forças
governamentais manipuladoras e benevolentes, no que tange ao financiamento público
de suas carreiras.
Pois bem, acredito que o episódio da caxirola, ocorrido
na Arena Fonte Nova (opa! “Arena Cerveja Fonte Nova”), representa a primeira
tentativa dessa ópera de horror.
Explicando: Em um acordo estabelecido entre o "cacique" Brown (membro da quadrilha cultural brasileira) com a empresa "The Marketing Store" (multinacional responsável pelo licenciamento, fabricação e distribuição do bendito artefato musical), contando com a anuência da FIFA, que elevou o "digníssimo instrumento" à categoria de produto oficial da Copa, e a benevolência da Presidenta Dilma, que serviu como garota propaganda, inclusive tentando de uma maneira plástica e artificial - quaisquer semelhanças são mera coincidência - tirar um som, tem a estimativa de arrecadar até 2014 a cifra de 3 bilhões de reais com a venda de 100 milhões de unidades ao preço médio de R$ 30,00. O que mais assusta não é o valor da negociata, pois o mundo do business esportivo é capaz de alavancar dígitos incalculáveis e impensáveis para um modesto trabalhador/torcedor verde-amarelo; a questão é a tentativa orquestrada de "inventar" um objeto, diga-se de passagem, plágio do famoso caxixi, usado nas rodas de capoeira pelo país afora, utilizando o discurso de filiação a uma cultura afro-brasileira e de que seria uma irmã pós-atlântica da vuvuzela.
Explicando: Em um acordo estabelecido entre o "cacique" Brown (membro da quadrilha cultural brasileira) com a empresa "The Marketing Store" (multinacional responsável pelo licenciamento, fabricação e distribuição do bendito artefato musical), contando com a anuência da FIFA, que elevou o "digníssimo instrumento" à categoria de produto oficial da Copa, e a benevolência da Presidenta Dilma, que serviu como garota propaganda, inclusive tentando de uma maneira plástica e artificial - quaisquer semelhanças são mera coincidência - tirar um som, tem a estimativa de arrecadar até 2014 a cifra de 3 bilhões de reais com a venda de 100 milhões de unidades ao preço médio de R$ 30,00. O que mais assusta não é o valor da negociata, pois o mundo do business esportivo é capaz de alavancar dígitos incalculáveis e impensáveis para um modesto trabalhador/torcedor verde-amarelo; a questão é a tentativa orquestrada de "inventar" um objeto, diga-se de passagem, plágio do famoso caxixi, usado nas rodas de capoeira pelo país afora, utilizando o discurso de filiação a uma cultura afro-brasileira e de que seria uma irmã pós-atlântica da vuvuzela.
Mas, quando menos pensamos, a população resiste. Mesmo que
isso não seja feito de uma maneira consciente, o ato de atirar a caxirola no
gramado, feito pela torcida do Bahia, pode ser lido enquanto uma negação para
com aquele objeto impostor. Claro que a motivação estava atrelada
ao péssimo futebol apresentado pelo time, mas, no momento de
reivindicar, geralmente nos desfazemos do que não tem valor financeiro/material
ou simbólico/afetivo, duas situações em que podemos incluir
o notável instrumento. Uma atitude pouco esperada, ainda mais que a
escolha do BA-VI para o lançamento nacional se baseava numa concepção folclórica e
estereotipada, reproduzida pelo próprio Carlinhos Brown, onde o
baiano é visto como um povo apenas festeiro e aberto a quaisquer vãs novidades,
alem de ter uma pseudo-habilidade para a sonoridade percussiva. De uma maneira ou
de outra, o episódio pode atrapalhar os planos, que eram vistos como perfeitos e
de fácil assimilação. Oxalá que isso aconteça.
Voltando a uma frase falada no inicio desse texto: "O
Futebol é o ópio do Brasileiro". Quero acreditar que se o
"futiba" é nossa droga, que seja em relação ao efeito alucinógeno que
nos faz sonhar e encarar o mundo com mais encanto e leveza. Que não nos cegue e
nem nos faça delirar a ponto de negar a nossa própria história e
cultura. Uma ideia repetida: Brown, Dilma, COL, FIFA, vocês não
representam o povo brasileiro!!!
Comentários
Postar um comentário