Da África do Sul ao Brasil: o terror da violência contra a mulher.


Prof. Pablo Michel Magalhães
Redação d'O Historiante



Venho cada dia mais me surpreendendo com a bestialidade do ser humano. Ainda que façamos parte de uma sociedade dita "civilizada", que arroga para si uma modernidade e uma sofisticação nunca antes vista, convivemos com exemplos de violência e brutalidade que me fazem questionar: civilizados? Não vou me estender sobre todos os aspectos que, a meu ver, negam essa pretensa civilidade, porque não caberia em uma simples crônica. Voltarei minha atenção para uma das piores atitudes do presente, fruto de uma péssima e antiga prática: a violência contra mulheres.

A prática não nasce do nada, é fruto de um conjunto de costumes e conceitos (pré-concebidos) sobre determinado assunto. Nossa sociedade ainda está embevecida em uma ideologia que coloca a mulher como sexo frágil e inferior, incapaz de ser protagonista, relegada a segundo plano na família, no trabalho e na vida social. Não bastasse isso, muitos ainda comungam com a ideia de que o homem manda sobre a mulher e tem sobre ela prioridade, como se, em uma relação, a esposa/noiva/namorada representasse um objeto de posse, sobre a qual o companheiro exerce seu poder.

Ainda que este panorama venha se modificando, casos absurdos ainda se fazem presentes, expondo que ainda há muito o que fazer em torno desse costume, que ainda teima em existir. 

Recentemente, uma jovem em Feira de Santana/BA foi espancada, baleada e queimada pelo próprio namorado. A delegada que acompanhou o caso, em Janeiro, chegou a dizer que por quase 4 horas, utilizando-se inclusive de correntes, o criminoso torturou a adolescente (tinha apenas 17 anos), atirou de raspão em seu corpo e queimou-a viva. A crueldade chegou ao seu extremo quando o namorado resolveu abrir a porta e fazer com que a jovem corresse em chamas pela rua. O criminoso, conhecido na região como "traficante", está foragido.

A brutalidade desse caso assusta, dá náuseas, choca, mas também alerta: a "coisificação" da mulher, que passa a ser objeto sob domínio dos companheiros, o sentimento de posse desses homens e a ideologia que falsamente lhes dá direito sobre a vida de suas companheiras é algo latente e muito presente. Isso deve ver combatido e extirpado do nosso meio.

Outro exemplo de violência contra a mulher aconteceu em Petrolina/PE: uma professora da Universidade Federal do Vale do São Francisco foi espancada brutalmente por seu ex-namorado. Como tentativa desesperada de dar um fim àquela situação, ela fingiu-se de morta. Só assim o agressor cessou os golpes. De acordo com a própria professora, o ex-companheiro possuía passagens pela polícia, com uma lista de crimes que incluía agressões a outra companheira. Na ocasião do ato deplorável, a filha de seis anos da professora estava em casa e ouviu tudo.

Imagem/reprodução: Blog do Carlos Britto


Como quantificar o trauma sofrido por ambas, mãe e filha? As marcas que ficaram no rosto da professora mostram a bestialidade do agressor. Contrariamente ao caso anterior, o criminoso segue preso até o julgamento, em Julho desse ano. Ainda assim, preso ou não, a agressão e os danos físicos e psicológicos não podem ser desfeitos. 

Nos últimos dias, outra caso envolvendo violência contra a mulher foi noticiado, dessa vez envolvendo um dos atletas paralímpicos mais vitoriosos da história recente: Oscar Pistorius. Na madrugada de quinta-feira, 14/02 (dia dos namorados na África do Sul), o atleta assassinou sua namorada a tiros, após uma longa discussão. Os vizinhos, alarmados com a briga do casal, contataram a polícia para que fosse ao local. Logo depois, tiros encerraram as vozes na casa de Pistorius.

Não acho pertinente perguntar "isso terá fim?". Esse questionamento é pífio, covarde, comodista. Para mim, isto terá fim, deve ter um fim, e para isso não há segredos. Precisamos combater os machismos reinantes, principalmente presentes na ideia de que o homem é dono de sua companheira, a ponto de tratá-la como objeto, coisa, um pertence de seus domínios. Silenciar as mulheres, calar seus anseios, suas perspectivas na vida, suas opções através da violência é uma das práticas mais vis que ainda existem em nossa sociedade.

E o basta a tudo isso perpassa pelo mesmo princípio: atitude. Atitude de ensinar a nossos filhos o quanto é importante o respeito e o carinho com as mulheres que os cercam, o quanto estes devem (e muito) a suas mães pelas vidas que possuem; atitude de denunciar os agressores, dando um basta à impunidade!

Da África do Sul ao Brasil, de Pretoria a Petrolina: continuaremos calados e de braços cruzados, enquanto criminosos maltratam nossas mães, filhas e irmãs? Jamais!

Comentários

Carl disse…
Abaixo o machismo!!! É esse o principal motivador/estopim de toda e quaisquer violencias de Gênero, age na surdina e sem contestações, pois para alguns é virtude masculina. Vamos combater, denunciar. Bom texto Pablo, a relação entre os acontecimentos foi de uma grande astucia, essa é uma agenda globalizante que precisamos superar.
Unknown disse…
Enquanto as mulheres não denunciarem as agressões serão constantes é preciso sim dar um basta a isso, nao há superioridade sexual, somos capazes de forma igual, o que deve ter é respeito. O tempo do homem "bicho do mato" ja passou.

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