Indicação do leitor - Downton Abbey


Rafael de Oliveira Cruz
Leitor do Historiante



O historiador francês Yves-Bercé costuma dizer que, nos países que perderam as suas monarquias, um sentimento de nostalgia continua a contagiar, mesmo alguns anos. A monarquia e a aristocracia britânica deslumbram por causa de sua pompa, atraindo para si comentários favoráveis ou não. Nesse meio de revival aristocrático, a série Downton Abbey tornou-se um instrumento muito interessante para aprofundamento de questões sobre o mundo da Belle-Époque, Primeira Guerra Mundial e o período que se passa durante o entre guerras. Criada e idealizada por Julian Fellowes e produzida pela Carnival Films para o canal britânico ITv, Downton Abbey começa sua história a partir do ano de 1912, com a notícia do naufrágio do transatlântico Titanic, e que provoca uma série de problemas na sucessão do título e das propriedades de Robert Crawley, conde de Grantham.

No desenrolar da temporada e das tentativas de se encontrar um herdeiro para a propriedade, a trama mostra as novidades tecnológicas que vão sendo popularizadas no começo do século XX, como a eletricidade, que é vista pela criada Daisy como uma "obra do diabo", ou o telefone, cujo toque, para a cozinheira, Sra. Pattmore, tem um som de uma "alma penada", e que para a condessa viúva de Grantham, interpretada brilhantemente pela atriz Maggie Smith, parece uma "máquina de tortura". Não é uma produção voltada essencialmente para fomentar debates em torno das relações patrão-empregados, mas, que pode abrir um precedente interessante entre os próprios níveis hierárquicos (mordomo, valete, lacaio, etc.), dentro de uma grande propriedade do interior da Inglaterra.

A segunda temporada tem um fundo mais tenso, ao se desenrolar durante a Primeira Guerra Mundial; o temor do destino do mundo, empregados discutindo o futuro da Rússia durante a revolução e o assassinato de Nicolau II e de sua família - um dos empregados, o motorista, é comunista e partidário do processo de independência da Irlanda. Em alguns episódios, são retratadas cenas de batalhas, como a Batalha de Verdun. Nesse ínterim do conflito, desenrolam os sentimentos dos que estavam na expectativa diante do conflito: rapazes ansiosos em servir à pátria e ao rei, e outros tantos temerosos em partir sem a certeza de voltar, que sempre foi muito característico de sociedades em guerra declarada.

Com um elenco formado, em sua maioria, por mulheres, questões sobre elas não poderiam ficar de fora: desde a filha mais nova do conde, lady Sybill Crawley, que assusta a família ao vestir calças logo na primeira temporada. Ou, como Ethel, uma empregada da família que acaba se envolvendo com um soldado inglês, engravida e não tem o filho reconhecido. Após ter vários empregos recusados por ser uma mãe solteira, Ethel acaba caindo no mundo da prostituição. Na terceira temporada, lady Edith Crawley, segunda filha do conde, consegue um emprego em uma redação de jornal, para desgosto da família, e aumenta ainda mais o desconforto em seus textos ao defender ideias como o direito de voto para as mulheres.

Por fim, a terceira temporada se passa na década de 1920, quando há um período de declínio econômico europeu e boa parte das antigas famílias nobres perderam parte de suas fortunas. A propriedade de Downton Abbey, que dá seu nome para a série, corre o risco de ser vendida para pagar dívidas. O mais divertido desse momento é a maneira como os patrões e empregados encaram o novo mundo em que estão vivendo e as adaptações necessárias para encarar essa realidade.


Comentários

Carl disse…
Seja Bem vindo ao Historiante. Excelente indicação e um texto igualmente qualificado!!!

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