É dois de Fevereiro, é dia de Iemanjá!!!
Prof.ª Josi Brandão
Redação d'O Historiante.
Os primeiros negros
escravos teriam chegado ao Brasil em 1537. Oficialmente, no entanto, o tráfico
de escravos africanos começou para valer a partir de 1551 e estendeu-se até a
metade do século XIX. Assim, pode-se muito bem dizer que na velha Salvador e no
Recôncavo nada há de valor histórico que não tenha um pouco do suor, do sangue
e do saber dos povos vindos da África.
A interação do negro no Brasil, mesmo a força, deu-se em todos os níveis: na assimilação e troca de culturas e também na miscigenação do negro com o branco e com o índio. Mesmo com o fim da escravidão, era preciso manter suas tradições, seus costumes, mas era também preciso cuidar do sagrado, que nunca fora esquecido, na busca da identidade, do elo com as origens africanas, até porque o conceito do Deus bíblico era inimaginável na compreensão daqueles homens e mulheres escravizados.
Os negros, cada vez
mais "baianizados" e mesmo cultuando à surdina suas divindades africanas, criavam
seus oratórios nas senzalas, nos mocambos, em suas moradas, e lá entronizavam
orações, terços, ladainhas e a quem faziam suas promessas. Nas igrejas, eles batizavam-se, casavam-se, benziam-se com água benta seus patuás, e organizavam suas
festas católicas, cada vez mais introduzindo nelas elementos de suas tradições
ancestrais. Assim, muitos santos da igreja católica romana foram
assimilados e cultuados pelos negros de uma forma especial, comparando-os e
identificando-os com a energia emanada de divindades africanas. A isso chamamos
de sincretismo religioso, uma forma de manifestação de fé muito comum entre
baianos até hoje.
E baiano que se respeita, por exemplo, comemora a virada de cada ano na praia, vestido de branco, fazendo oferendas de flores à sua rainha do mar, molhando a cabeça nas ondas, acendendo velas na areia, confraternizando-se e bebendo champanhe. Muitos rituais a Iemanjá acontecem ali, à beira d’água, com gente de santo dançando e cantando, tocando atabaques e até incorporando o orixá, como se estivesse numa festa de terreiro.
E no meio de tantas
festas na Bahia, uma se destaca todos os anos. Dois de fevereiro, o dia de
Iemanjá, festa para a rainha das águas, nas praias do Rio Vermelho. Bem cedinho,
alguns candomblés depositam seus presentes para Oxum, divindade das águas
doces, no Dique do Tororó. Até o cair da tarde, uma multidão vestida de branco
ou azul clarinho vai até um caramanchão, montado pela colônia de pescadores do
bairro do Rio Vermelho, na orla marítima da cidade, e ali deixa seus presentes
e pedidos para Iemanjá. No final da tarde, dezenas de barcos saem em direção ao
mar alto, levando balaios e mais balaios de oferendas que são jogados ao mar
com muitos batuques e saudações em banto e iorubá, num determinado ponto do mar
aberto, a milhas da costa, no reino da mãe d’água.
A festa data da segunda
década do século XX, quando pescadores decidiram fazer oferendas à deusa do
Aiocá (as profundezas do mar), pedindo proteção e boa pescaria, já que houve
uma diminuição no pescado na vila do Rio Vermelho. Tentando buscar ajuda da
rainha do mar, pescadores saíram ao mar para ofertar presentes a ela. Ano após
ano, os pescadores repetem essa cerimônia. A principio, era feita em conjunto com
a Paróquia do Rio Vermelho, devido ao sincretismo entre a Orixá e Nossa Senhora
da Conceição. Na década de sessenta, houve uma reação da Igreja Católica contra
o culto pagão, temendo a adesão de fieis ao candomblé, fazendo com que a festa
perdesse, oficialmente, a devoção a santa católica. A Igreja, hoje, localizada
no mesmo local da festa, mantém as portas fechadas no dia de Iemanjá.
Quem quer chamar por Iemanjá, usa sua saudação
“Odoiá”, a mãe generosa e vaidosa, rainha do mar, sereia. Janaína, senhora dos
mistérios das profundezas dos oceanos, protetora dos pescadores.
Salve Iemanjá!!!!
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