Copa São Paulo de Futebol Junior: entre heróis e vilões uma responsabilidade precoce.





Prof. André Araújo
Redação d'O Historiante



Disputada desde o ano de 1969, a Copa São Paulo de Futebol Junior, competição que era organizada pela prefeitura de São Paulo e não pela FPF (Federação Paulista de Futebol) é hoje uma das maiores vitrines do futebol das Américas. Criada para ser um evento comemorativo do aniversário da cidade de São Paulo (25 de janeiro), o evento tem o formato de disputa com times de divisão de base devido o período do evento ser justamente o momento em que os clubes profissionais dão férias aos seus jogadores profissionais. Diante deste empecilho, a solução encontrada foi “usar” os juvenis. Pois é, não se enganem! Não foi para promover o esporte, saúde e integrar os nossos jovens, foi por uma questão digamos que de mercado.
Em 1969 ainda não havia a divisão juniores e a competição era organizada somente entre times paulistas. Algumas pessoas se levantam hoje contra o nome da competição, achando que é uma homenagem da CBF ao sul maravilha. Sim! Manter o nome da competição, além de reafirmar o lugar comum de que a tradição e o centro do país, mesmo no futebol, estão no sul maravilha, pode ser considerada uma espécie de homenagem, mas a origem do nome da competição está assentada no fato do evento ter sido para a comemoração do aniversário da própria cidade. 

Após o sucesso da seleção brasileira na copa do mundo de 1970, o futebol virou para o aparelho da ditadura civil-militar um fator agregador e atenuador das tensões produzidas pelo sistema de exceção que o Brasil vivia. A copinha (a alcunha da competição) sofrera sua precoce e primeira mudança dentro deste contexto. Tornara-se um torneio que deveria ser disputado entre diversos clubes do país. A competição era organizada de modo que sempre, na final, teria que haver um clube paulista para garantir que a festividade ganhasse sentido para os paulistas. Satisfazia aos paulistas e aos interesses dos governantes em produzir entretenimento em âmbito nacional.

A Copa São Paulo de Futebol Junior é sem dúvidas uma fábrica de craques. Já revelou diversos talentos para o futebol nacional e internacional, como Toninho Cerezo, Falcão, Raí, Kaká, Robinho, Lucas - que foi vendido para o futebol francês pela nada singela quantia de cerca de R$ 100 milhões recentemente. A curto prazo (3 ou 4 anos) essas revelações rendem muitos lucros para os clubes reveladores, como no caso do Lucas. Para muitos, a copa é uma verdadeira incubadora de jogadores de futebol. No torneio, muitos desses jogadores têm contato com a imprensa nos moldes dos campeonatos profissionais. O sucesso no torneio torna-se um experiência como um rito de passagem, onde o sonho de ser jogador de futebol vai virando realidade e o sonho de ganhar dinheiro e ajudar a família vai se tornando mais próximo.

O problema é que a pressão em cima desses garotos é enorme. Muitos deles entram em campo com o peso de suas famílias nas costas. A obrigação de garantir à família e aos agregados a sobrevivência ociosa é o pano de fundo da situação. Para tal empreendimento, a família se empenha em garantir que o seu rebento jogue futebol e esqueça dos estudos. Caso o garoto não consiga o sucesso, sua família sustentará sua ociosidade? Obviamente não! Na edição de 2013, um jogador do Esporte Clube Bahia, chamado Raylan, perdeu dois pênaltis na mesma partida e o narrador da partida disse: “o futebol faz heróis e vilões, qual será o papel do Raylan?” Entre aqueles onze jogadores em campo, muitos deles não tiveram tantas oportunidades para estudar, em função da dedicação ao futebol. É o caso do Raylan, da cidade de Araci, no interior baiano. Entre heróis e vilões, a tirania do sucesso financeiro torna cada vez mais precoce a inserção de garotos no futebol. Só conseguimos ver uma pequena parte dessa negociação de vidas e perspectivas de futuro. Muitos deles já ficaram desamparados e sem o sonho realizado! E nós? Ainda estamos procurando heróis e vilões?

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