Ilhas de concreto e os sóis de dezembro.


Prof. Pablo Michel Magalhães
Redação d'O Historiante



Nunca um plural caiu tão bem numa frase.

A propósito, entendeu o título da postagem? Teve aquele insight ao ler?

Tudo bem. Vamos trocar em miúdos, pra conta ficar mais simples.


Os dias quentes de dezembro chegaram. Não que os demais não sejam suficientemente quentes (eles o são, até demais). A questão é que, me parece, um segundo sol, irmão do primeiro, veio visitá-lo nessas férias. Pra completar, ficam os dois, lindos, manhã, tarde e noite(!) passeando por aí. Dizem que no Rio de Janeiro (Ah, aquela cidade maravilhosa) 43,2º de puro verão sacudiram essa quarta-feira. Enquanto isso, neste recanto feliz onde moro, beiramos os 37°, com sensação térmica de 90°. Baiano que sou (pernambucano que me tornei), vejo dias e dias passarem, sem uma gota de chuva molhar o asfalto quente da cidade ou o árido solo das roças e sítios.

Entretanto, como posso me revoltar contra a natureza? Secas correspondem a um vai e vem de massas de ar quente e frio, que trazem e levam embora a umidade do ar e as nuvens.

O que acho engraçado é essa recente mobilização do governo (liberação de verba para combate à seca no norte de MG e no Nordeste). Já é uma prática tipicamente brasileira: só nos movimentamos na hora em que o sapato aperta o calo. E, assim, mais uma vez, a indústria da seca vai lucrar com a miséria alheia. Operações carro-pipa, perfuração de poços, construção de cisternas e mais de 300 milhões de reais irão passear pelas mais de 1300 cidades que sofrem com a estiagem.

E para o bolso de quem esse dinheiro irá?


E, ao passo em que gotas de água são contadas a dedo, monstros de concreto são erguidos em várias capitais do Brasil. Qual o objetivo? Sediar a Copa do Mundo! Mostrar ao mundo que sim, nós temos mais que bananas. Somos uma nação rica, promissora, desenvolvida, eficiente, animada... e cega! O absurdo dessas ilhas de concreto é proporcional à cara de pau dos governantes, os mesmos que lucram com a indústria da seca. Constroem monumentos faraônicos, com a mais alta tecnologia (teto retrátil, placas de energia solar, aproveitamento da água da chuva, cadeiras confortáveis) pra impressionar turistas europeus, mas reverberam o discurso "Diante da seca, nada podemos", e utilizam medidas paliativas de última hora pra justificar a inércia de seus governos.



Lucra-se aqui, e também lá: 27 bilhões é a cifra fixada pelo Tribunal de Contas da União para o custo total das obras com estádios para a copa, 2 bilhões mais cara do que o previsto! Não se engane, é dinheiro seu e meu, pago nas nossas contas, em taxas e tarifas que sangram mensalmente o bolso do contribuinte.

27 bilhões, 300 milhões... e há ainda quem anime-se. "O salário mínimo agora é 678 reais!". Ah, que felicidade: você recebe 678 reais, enquanto as mãos governamentais levam 10, 20, 30 milhões.

Que calor, não? Um gole d'água é tudo que preciso agora.

É tudo que preciso...


Comentários

Thuanne disse…
Infelizmente, essa realidade não mudará enquanto nosso governo continuar deixando de investir em educação e incentivar a farra do "Pão e Circo". E sim, somos uma nação cega, surda e muda. Não enxergamos dados tão claros que nos mostram roubos e mais trambiques, não escutamos os mais "conhecidos" e achamos que apenas estão alienados ou revoltados e não falamos contra essa situação, não nos opomos contra essa realidade. Pelo contrário, contraditoriamente ou não, "reclamamos" desse descaso, mas gastamos nosso dinheiro em shows supérfluos, em abadás caríssimos, em ingressos para esses jogos que acontecerão nesses estádios que pagamos inconscientemente. Não sou contra a cultura. Sou contra deixar de investir em educação para investir em cultura supérflua. Na minha humilde opinião, "pau que nasce torto nunca se endireita", nossa nação nasceu de forma errada e trambiqueira e assim continuará.

Para quem discorda, meus parabéns. Isso quer dizer que você tem opinião, e isso me faz ter esperança. E sim, você faz com o seu dinheiro o que você quiser. Como eu disse, é apenas minha humilde opinião.

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