Esta nova geração...?



Prof. Andre Araújo
Redação d'O Historiante.



Esta juventude esta cada dia mais precoce. E essas meninas, hein?! Muito “saidinhas”! 
"Adiantada demais"! Tornou-se lugar comum nas conversas e atitudes dos mais velhos em relação aos menores. Sem dúvidas essa celeridade destes novos tempos tecnológicos “impõem” uma mudança de comportamento e/ou visão de mundo em conflito. As redes sociais passam a ser um dos eixos de difusão do pensamento social mais imediato diante destes eventos, pelo menos uma parte da sociedade, mas que vem crescendo diariamente. Colocando inclusive a TV, esse “monstro” na formação dos indivíduos, em segundo plano na interferência dos comportamentos sociais. O mundo está em conflito. Há ao que parece, um conflito entre um pseudo-antigo e tradicional (um passado que precisa ser resgatado) e um moderno voltado para irreverência, liberdade excessiva onde já não se sabe mais quem é o que e os valores já foram perdidos (como se valores não fossem construídos socialmente diante dos interesses dos sujeitos e passassem a ser algo dado a priori, quase como um passe de mágica, uma manifestação auto-realizada em si e que precede a existência dos sujeitos). 




Neste cenário acontece um evento que sensibiliza a sociedade baiana, seja pela revolta, comoção, pilhéria e ou concordância, dentre outros sentimentos. O estupro, ainda investigado pela polícia, de duas menores, realizado por membros da banda New Hit (ou do bando, como preferirem). Então voltamos às ruas ou redes sociais e escutamos discussões a respeito. Como se isso não fosse de certa forma cotidiano e reconhecido por todos! Jovens seminus sendo assediados por mais velhos, pelos “novinhos” e pelas “novinhas” (não nos esqueçamos das lésbicas precoces também). Não houve novidade no evento, mas penso que não pode haver continuidade nos absurdos como este evento está sendo tratado, bem como não é salutar encarar esse evento como algo comum e que não mereça atenção profunda da sociedade! 


Segue comentários do ocorrido em alguns sites de notícias:





“Se ocorreu de fato o estupro n tem justificativa. Mas dizer q essas meninas facilitam p essas coisas acontecerem, isso é fato. Perderam a vergonha, n tem mais nenhum pudor nem respeito a si próprias. Como podem exigir respeito dos outros? São uns vagabundos realmente, mas as mulheres precisam se respeitar mais!” (http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/caso-new-hit-polemica-com-a-banda-e-fas-divide-opinioes/)

“Eles vivem rodeados de lindas dançarinas e lindas mulheres, a população acredita no que quer, sabem o quando as mulheres estão cada dia mais oferecidas e vulgares, e ficam tapando os olhos na hora de enxergar a realidade, porque julgar é fácil o sucesso sempre incomoda, mas eles vão dar a volta por cima e mostrar pra gente como você”. (http://www.metro1.com.br/portal/?varSession=noticia&varId=17275)



Este último comentário é de uma garota bonita, aparentemente muito jovem que tem como foto no perfil uma imagem destacando expressão facial sensual e um decote realçando seus seios. Será que se ela fosse pedir um autógrafo num ônibus cheio de homens poderíamos entender que ela foi culpada por “ter dado mole” e chance para o azar de ser estuprada? Penso que não! A citada inclusive se auto-afirma como amiga e fã da banda. Sua opinião carrega uma miscelânea de sentimentos e interesses que influenciam seu pensamento. Ela pensa baseada num sentimento individual e dispensa completamente o coletivo no qual ela está inserida. Ela é mulher. Compõe o lado mais frágil desta sociedade falocêntrica e esquece que com este tipo de julgamento ela pode ser a prejudicada, ou sua filha mais tarde, ou irmã... 

Histórias em que uma garota estava numa festa "de graça", “facinha-facinha” e que, portanto merecia ser apalpada , seja porque a roupa ou as suas palavras pediam, ou coisa semelhante é lugar comum nas conversas cotidianas que não são postadas em redes sociais ou faladas em meios mais críticos com medo de represálias. Recomenda-se o bom tom nas conversas e falar essas coisas que se faz cotidianamente esta fora da ordem dos discursos que se pode emitir em meios públicos. Mas na prática este tipo de violência – física, verbal, psicológica – continua. A comodidade de se esconder atrás de um passado que não volta mais e que seria ideal acomoda os sujeitos e não auxilia nas discussões a respeito deste tema, que é tão caro para uma sociedade que pensa em ser “organizada”, “civilizada” ou qualquer nome que se dê a pessoas que prezam pelos direitos e liberdades corporais visando o coletivo. Criam-se preconceitos que evocam esse passado ideal em vez de uma reflexão que encara que de fato a sociedade mudou. Tecnologias e novos comportamentos fazem parte deste “novo mundo”. As concepções de infância e adolescência mudaram, as mulheres acompanharam estas mudanças também. 

Existem músicas que falam destas práticas violentas e são consumidas diariamente nas mídias. De fato as pessoas reconhecem o constrangimento que a prática de ato sexual mediante violência é crime contra a dignidade da pessoa, merecendo punição pela justiça e também pela sociedade (visto a série de piadinhas que já falam sobre as desventuras sexuais que os membros da citada banda podem sofrer na cadeia). Porém, seja por omissão ou ação continuam auxiliando na perpetuação destas práticas “nefastas”. De nada valerá um sistema legal avançado que puna estes sujeitos se continuarmos como cúmplices dos violentadores propriamente ditos (bandas, músicas, opiniões que legitimam a prática sexual violenta “porque eles e elas, menores ou não, pedem”). Toda vez em que consumirmos alguns comportamentos organizados por exploradores das mídias (artistas e empresários) e não fizermos uma análise crítica poderemos estar coadunando com estes absurdos, seja por omissão, ou a manifestação violenta “espontânea”. Uma coisa é censura, outra é compromisso social, engajamento político (aqui entendido como em um aspecto mais amplo que o das legendas partidárias) ou qualquer outro nome que se queira dar a atitude diante de problemas que se enxerga no dia-a-dia. A violência da censura é um absurdo. Prefiro o dialogo cotidiano e de forma alguma referendar práticas perniciosas como esta violência que as garotas podem ter sofrido. O politicamente correto pode não ser engraçado, mas não faz ninguém chorar! Enfim, a forma de vestir das mulheres não pode ser lida como um convite a desventuras sexuais. Uma coisa é a busca e o interesse no sensual e outra na sexualização violenta de tudo que é corporal. 

Se estas garotas forem enquadradas apenas pelo tal estereotipo da PIRIGUETE (pobre, usa roupas baratas e decotadas, gosta de funk e pagode, tem corpos bem desenvolvidos e vivem à mostra), onde não podem exercer a liberdade de seu corpo, esqueceremos que uma das coisas que mais vemos nos shoppings: garotas de classe média alta desfilando seus pequenos vestidos e saias, suas roupas apertadas e decotes sensualíssimos. Retiraremos dessas garotas o direito de exercerem suas liberdades. Mesmo que não concordemos com certas posturas, elas são feitas a partir de nossas convicções e interesses. Nossos preconceitos! Deixemos elas viverem em paz! E não as culpemos pela violência “machocrática” cotidiana que a sociedade lhes impõe cotidianamente.

Estes comportamentos "inadequados", o consumo exagerado de álcool, ou de outra espécie de entorpecente, por uma mulher, não concede a ninguém o direito de praticar sem sua permissão qualquer ato que seja, ainda mais um ato de sexual. A prática de violência sexual contra mulher, tal como supostamente ocorreu, ou seja, sem o livre consentimento da vítimas (seja lá por qual razão foi), acontece comumente e é considerada uma normalidade e isso é um absurdo. Pensar nisso sem buscar entender a sociedade em que vivemos é um completo absurdo e em nada nos ajuda a construirmos uma sociedade de respeito aos sujeitos.

As garotas estavam diante de uma situação de vulnerabilidade tanto pela sua condição de fã, como pela condição de menores. Não lemos a constituição para sairmos às ruas fazendo algo ou deixando de fazer, mas acho que é sabido por todos que “comer novinha da detenção”. Não é mesmo? 

É indiscutível, a meu ver, a situação de vulnerabilidade das envolvidas (uma banda com nove integrantes e duas garotas) no contexto do ocorrido. Já saiu um laudo (bem verdade que particular, mas não acredito que um médico vai colocar sua credibilidade e seu CRM em prol de fama efêmera). A situação diante da lei agora é a seguinte: Elas são maiores de 14 anos, portanto terá de ser comprovado que o ato não foi consensual. E agora? Tomara que os citados sejam punidos e que a família não se amedronte diante das possíveis ameaças que fãs imprudentes possam fazer.

Questões jurídicas a parte, lembre-se que os integrantes da banda partem de uma outra realidade social e entendem-se como diferentes, conforme o vocalista mesmo citou certa vez em um programa de TV: “Somos os pop stars do pagode. E a gente veio diferente, bonitinho, de boa aparência, branquinho” (http://www.youtube.com/watch?v=zCGsieYJhbA&feature=player_embedded). 
Até que ponto não digerimos estas concepções da aparência de “bom moço” à imagem da “mulher piriguete” que se “exibe desnecessariamente” e, portanto de certa forma, mereceu se violentada? Como essas concepções influenciariam o julgamento deste caso? Bem, essa é uma boa oportunidade de buscarmos analisar nossas atitudes diante da mulher e dos menores que compartilham esse ambiente informacional tão pouco segmentado no que diz respeito aos acessos que é a internet. Que esta infelicidade permita investigarmos nossas opiniões mais à fundo a respeito destas questões e que possamos avançar contra preconceitos que ferem as liberdades dos sujeitos e sujeitas.



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