Da invenção da imprensa ao Facebook




Prof. André Araújo
Redação d'O Historiante



No ano século XV o alemão Gutemberg teria inventado a prensa que possibilitou que a informação circulasse em maior quantidade através de textos impressos. Para muitos, Gutemberg inaugurou o mundo da imprensa e foi um dos principais responsáveis por mudanças sociais na Europa, principalmente mudanças relacionadas à difusão da ideologia protestante de Lutero. Isso, a partir da vulgarização da bíblia em língua vernácula (língua local em detrimento do latim, como geralmente eram produzidos os textos). Mudanças no mundo religioso cristão ocorreram e a Europa não seria mais a mesma. Essas mudanças, sem dúvidas, não podem ser analisadas sem contextualizarmos as transformações do ambiente informacional vividos.


 
(Bíblia de Gutemberg)

Para que mudanças tecnológicas implicassem em mudanças sociais, outros elementos teriam que colaborar para isso. Em se tratando da vulgarização da bíblia, das 95 teses de Lutero e a consequente reação católica (a Contra-Reforma), outros fatores foram necessários para que a tecnologia empregada implicasse em mudanças sociais. Foi necessário, primeiro, um desenvolvimento do alfabeto, seguido por uma organização dos textos baseados em ordenamento de capítulos, ampliação dos locais de letramento e, sobretudo, uma disposição dos que viviam este tão conturbado século XVI a receber novas ideias, defendê-las e divulgá-las.

Os asiáticos já produziam textos em escala ampliada através do sistema da xilogravura (moldes de madeira que serviam para aplicar tinta em papéis e tecidos); os coreanos no século XV, com o rei Htai-Tjong, que dizia que “para governar, é preciso propagar o conhecimento das leis e dos livros de modo a satisfazer a razão e endireitar o coração dos homens...”, já conviviam com a realidade dos impressos, mas sem os caracteres do alfabeto romano (o formato das letras como conhecemos hoje). Essas novidades não foram absorvidas imediatamente pela Europa. Se as tecnologias de impressão já eram conhecidas e utilizadas antes de Gutemberg e não produziram os mesmos efeitos no mundo asiático, se pode atribuir às transformações tecnológicas mudanças sociais imediatas? É possível que não. Melhor pensar que as mudanças tecnológicas só transformam a sociedade quando a sociedade se movimenta, ou seja, as mudanças tecnológicas seriam, na verdade, amplificadores/potencializadores das ações humanas.

 
(Selo de Morse e seu telégrafo)



Desta forma, a imprensa “inventada” por Gutemberg fora ampliada com uma outra invenção do século XIX, o telégrafo de Samuel Morse. A partir desse momento, as notícias ocorridas nos lugares mais remotos passaram a chegar com maior velocidade e, portanto, os sujeitos interessados em divulgá-las, seja qual o seu motivo (razões de ordem política, interesses financeiros, reforço de uma determinada ideologia) passaram a construir um “mundo da informação”. As notícias menos impactantes na vida de determinadas pessoas de repente passariam a ter sentido e fazer de um mundo distante um referencial, por mais desnecessária que a informação divulgada fosse e por mais que o local do fato fosse desconectado de sua realidade. O rádio, a televisão, por fim (e por enquanto) a internet, são tecnologias que puderam potencializar a difusão da informação.

As informações enquanto recorte das experiências das pessoas, selecionadas por determinados grupos, dispostos a interferir na sociedade através de seus escritos (e suas imagens também), sem dúvidas, são importantes na formação dos indivíduos. Todas essas transformações tecnológicas ajudaram a difundir informações e vêm auxiliando a formação da chamada opinião pública. No atual momento tecnológico e veloz em que vivemos, estas modificações vêm ajudando a democratizar a produção da informação, permitindo assim que mais pessoas venham a interferir na sociedade com a vulgarização das mais diversas visões de mundo e experiências.

 
(As muitas redes sociais existentes)

O advento das redes sociais na internet como o MSN, Orkut (in memorian), Facebook, Youtube, Twitter, é um importante momento que propicia um fomento a novas formas de comunicação e consequente ressignificação do que é a informação e o uso que podemos fazer delas, seja com finalidade educativa ou simplesmente como entretenimento. Estamos em um dos momentos mais democráticos da produção de informação, onde o filósofo Renato Janine Ribeiro chegou a criar expectativas de que poderíamos mesmo estar diante da possibilidade de ser criada uma moderna e tecnológica Ágora (praça em que se juntavam os cidadãos, na Atenas antiga, para decidir sobre assuntos públicos). Só que não! O que se multiplica nas redes sociais, além de um narcisismo (#PARTIUACADEMIA, #PARTIUBALADA, #SOFRO POR AMOR) são formas de pensamento extremamente conservadoras, pois nossa sociedade é por estrutura e por educação (escolar, domestica e religiosa) conservadora, desrespeitosa, violenta e intransigente.

De forma simples, irresponsável e acrítica, se juntam informações de grupos extremamente interessados em garantir hegemonia no plano político (sejam grupos de pessoas endinheiradas, políticos corruptos, religiosos intolerantes) e econômico (como grandes empresas de informação televisiva, radiofônica, jornalística que buscam representar os interesses das elites). Ajudamos a ampliar sua influencia em nossa sociedade quando saímos divulgando seus produtos culturais. Permanecemos em nossas casas reproduzindo toda sorte de ideias, sem muitas vezes refletir quais as conseqüências das mesmas para nós e quem nos cerca. Desta forma, reproduzindo uma serie de desigualdades. Uma informação não é construída sem ideologia, sem interesses, e nunca será despretensiosa. Neste momento “democrático” que vivemos, é preciso cada dia mais desconfiar dos sorrisos, das propagandas, das idéias de pessoas que não dialogam com as mais amplas realidades e que não prezam por valores básicos como a solidariedade, respeito à vida, a liberdade de opinião, enfim, um mundo mais plural e com justiça social. 

P.S.: #BOALEITURAMIGUXOS #PARTIUFACES #LEKLEKLEK #+HASHTAG



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