Dica Livro - " Orientalismo: O oriente como invenção do ocidente", de Edward W. Said
Prof. Carl Lima
Redação d'O Historiante
Uma das grandes, senão a principal característica dos
estudos pós-coloniais é a interdisciplinaridade. Característica que contribui
para a construção de campos científicos sofisticados e que tem na vulgarização do
conhecimento produzido, para além das fronteiras de suas origens, uma de suas consequências. Poderíamos,
aqui, nos estender as várias ciências auxiliares que tributaram na sua formação
– Sociologia, Psicologia, Linguística, Semiótica, História – porém, quero destacar, aqui, o Orientalismo. Essa escolha justifica-se por dois motivos: Primeiro, pela importância e tradição
que este tem na explicação e apreensão do Eu, numa relação de alteridade, algo
que tangencia a luta representacional pós-colonial; segundo, por nos oferecer subsídios na compreensão do
anti-eurocentrismo, na contra-estereotipia dos sujeitos e também na negação das
identidades fixas, princípios que caracterizam os Estudos pós-coloniais.
O Orientalismo teve no
decorrer de sua história, uma função bem clara: servir os grandes impérios,
produzindo conhecimento que propiciasse estratégias de dominação. Assim,
podemos afirmar que em momentos de expansionismo, seja na Grécia Clássica, ou
na Roma antiga; seja no século XV com as grandes navegações ou no século XIX
através do neocolonialismo, esse tipo de conhecimento se desenvolveu para
legitimar a relação de dominadores/dominados. No entanto, esse mesmo campo de
conhecimento, que outrora legitimou a relação incestuosa, fora responsável por
criticar e por buscar superar as desigualdades decorrentes, utilizando como
suporte o relativismo cultural. Justamente nessa fase que encontra-se
as respectivas contribuições aos Estudos pós-coloniais, em particular e a
tentativa de construção de um mundo mais justo e democrático.
Edward Said
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Diferente de outras áreas de conhecimento que deram uma virada
epistemológica no pós-guerra, buscando se
redimir do passado a serviço do imperialismo, incluindo-se aí um coletivo de
intelectuais, no que concerne ao Orientalismo, podemos destacar apenas a figura
de Edward Said, pensador e ativista político palestino, que através de sua obra
clássica: Orientalismo: o Oriente como
uma invenção do Ocidente, faz críticas ao desenvolver uma revisão
contundente e sistematizada ao discurso colonial. Nessa óptica, o mesmo tem
status de um paradigma a ser desconstruído, pois representa a construção “mais
enviesada” do Outro, por parte da ciência etnocêntrica.
Nessa obra o
orientalismo é tido como um campo de estudo tradicional na Europa. Supõe-se que
sua existência é dada pelo concilio de Viena em 1312, caracterizando-se por
construir a imagem do oriente baseado no lugar específico da experiência
européia. Portanto, um orientalista para Said, em quaisquer momentos da
história, seja na idade média, seja no século XIX ou nos dias de hoje, é o indivíduo
que busca de todas as formas domesticar o exótico, construindo a imagem do
outro – Oriental - partindo do seu próprio sistema representacional – Ocidental
-, assim ele pode ser um antropólogo, arqueólogo, filólogo, historiador ou um
cidadão comum. O palco orientalista torna-se um sistema de rigor moral e
epistemológico, como uma disciplina que representa o conhecimento ocidental institucionalizado
pelo ocidente
Visão do Outro |
A crítica
feita por Said ao Orientalismo e por conseguinte a sua construção do Outro,
influenciou aos Estudos Pós-coloniais ao sistematizar como um dos seus
principais objetivos, a desconstrução eurocêntrica da representatividade do Eu.
Se o maior crítico do Orientalismo reconhece que a Europa do oriente para
reconhecer através do espelho da alteridade o “não eu”, os intelectuais
pós-coloniais alargam a critica a outros territórios. Para eles pouco importa
se é na América, Ásia ou África, a Europa e sua ciência tem um discurso pronto e
com todo potencial de reprodutibilidade que possa a vir justificar a sua dita
superioridade.
O intuito desse seu
estudo é criar subsídios que possam ajudar na desconstrução das identidades
fixas. Assim, três elementos unidos são importantes para o
colonialismo ou no mínimo para o discurso colonial: fixidez, estereótipo e ambivalência. Esse trinômio fomenta a
diferença, mas uma diferença pautada no binarismo e nas dicotomias
superior/inferior, bom/mau, branco/negro, sagrado/demoníaco, dando dessa forma,
uma ordem imutável e fixa as relações de alteridade, construindo assim os
estereótipos.
O certo é que a crítica de Edward Said reconhece que a superação
e o deslocamento do discurso colonial serão impactantes para o desmoronamento
do imperialismo em suas diversas formas, seja ele econômico, racial ou
epistemológico. Assim, reconhecer o estereótipo, como um modo ambivalente de
conhecimento e poder, exige uma reação teórica e política que desafia os modos
deterministas ou funcionalistas de conceber a relação entre o discurso e a
política. A leitura dessa obra pode nos oferecer um novo conjunto de estratégias de interpretação
da realidade, levando em consideração os efeitos do colonialismo. Esse estudo subverte a episteme existente,
instaurando um processo de descolonização, não apenas científico, mas também
material e acima de tudo humanístico.
Só nos resta desejar Boa Leitura !!!
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