Álbum - Sob o Sol de Parador
Prof. Carl Lima
Redação d'O Historiante
Que tal um álbum que sintetize em algumas canções a Nova República brasileira – pós 1985 – especificamente o anos de 1988-1989, período que se destaca pela conclusão da nossa última Constituição e a primeira eleição direta presidencial desde 1960? Pois bem, é nesse contexto que o cantor e compositor Lobão produziu e lançou o seu “Sob o Sol de Parador”. Disco pouco divulgado e proporcionalmente vendido, cantado com muito grito e revolta. O que, para alguns, representava desafino e falta de técnica vocal, para outros era a forma mais irônica de denunciar e protestar.
Em termos de estética, se coloca numa fronteira experimental entre o Country Music, o Punk Rock e alguma dose de Heavy metal, sem contar que, nessa gravação, como havia feito no seu disco anterior, Lobão continuou a utilizar como elementos da banda a bateria da Mangueira, com destaque para a presença do Mestre Alcir Explosão e do ainda percussionista Ivo Meirelles. Como toda obra do grande Lobo, esse quinto disco não pode ser visto/analisado de uma maneira uniforme. Junto com as letras/protestos e rock agressivo, temos também as baladas, com destaque para “Azul e Amarelo”, uma releitura da composição do Cartola, ou ainda a “Toda nossa Vontade”, ao estilo Jonh Lennon e numa inspiração de despedida. Não podemos deixar de citar “Essa Noite, não – Marcha a Ré em Paquetá”, balada que anuncia a depressão como uma doença do futuro nas grandes cidades.
Mas o que nos interessa,
sob o ponto de vista histórico, nesse “clássico” são as músicas “Panamericana – Sob o Sol
de Parador”, “Quem quer Votar – O sofisma” e “Um bobo para Cristo”. Canções com
um alto grau de politização que, mesmo fazendo parte de um mesmo contexto, tem inspiração
e temática variadas. Vejamos “Panamericana”, que se caracteriza por um jogo heurístico*, onde os questionamentos vão desvelando a História do século XX na América
Latina, como nos mostra esse pequeno trecho:
Quem são os ditadores
Do Partido Colorado?
O que é a democracia ao sul
Do Equador?
(...)
Quem são os assassinos dos
Índios brasileiros?
Quem são os índios incas
Que plantam cocaína?
Quem são os traficantes
Com armas e gasolina?
Quem são os Montoneros?
Quem são los Tupamaros?
Las madres e abuelitas
Na praça de maio.
Além dessa letra provocante, temos um típico rock n' roll com uma forte pegada e efeito nas guitarras, que acompanha melodicamente o ritmo e a temática da letra, numa interação perfeita.
Já “Quem quer Votar”,
tem um teor de sátira – ao estilo bem próprio do Lobão – ao trazer à tona a
eleição presidencial de 1989 e seus 22 candidatos – Lula, Collor, Brizola,
Covas, Maluf, Enéas, Quércia, Ulisses, Gabeira, (ufa... cansei) entre outros – que
buscavam representar a diversidade que marca a formação brasileira, ao adotar uma
variedade de projeto para aquele Brasil recentemente democrático. Assim, Lobão
nos ensina:
A política faliu
Não dá pra acreditar
Até o que é civil
Parece militar
Voto de cabresto
Voto de operário
Voto de indeciso
Voto milionário
Voto de fantasma
Voto que atrapalha
Voto de palpite
Voto de canalha
Quem quer votar
Quem vai votar
(...)
Musicalmente, é um puro punk ao estilo brasileiro, com um abuso marcante no Contrabaixo, especialmente no excelente refrão.
“Um
bobo para Cristo” é a epopéia do devir, quem seria capaz de organizar o Brasil
num momento de crise econômica que marcava a “década perdida”, onde nem os bem intencionados
e formulados Planos Cruzados, Bresser e Verão conseguiram estancar a
inflação galopante e evitar a desvalorização do PIB? Assim, a letra nos
anuncia:
Queriam um cara pra cristo
Pra ser herói nacional
Pra ser o bobo dessa festa
É tudo que nos resta no país do carnaval
Máscaras não movem destinos
A fantasia não tá legal
A poesia, um tiro na testa
É tudo que nos resta no país do carnaval
E não me chamem de covarde
(...)
Das três
canções essa a mais pesada, mas com uma intromissão de um saxofone que se
destaca e que busca uma harmonização.
Lembre-se,
essa é uma indicação/possibilidade de se trabalhar com a música enquanto
recurso na aula de História. Muitas possibilidades, referentes a conteúdos, podem
ser exploradas nesse Álbum, como também em tantos outros. Vamos experimentar. O
Brasil é uma usina musical, então, não reduzamos o uso das canções apenas ao
período da Ditadura Militar. No mais, vamos ouvir e tirem suas próprias
conclusões, só mais uma dica: vale à pena dar uma olhada na Capa do Disco, pode
ser uma bela introdução à aula ou ao bate-papo.
Heurístico: Palavra de origem grega, que numa tradução direta significa descoberta/descubro. Busca de resposta viáveis para questionamentos complicados.
Heurístico: Palavra de origem grega, que numa tradução direta significa descoberta/descubro. Busca de resposta viáveis para questionamentos complicados.
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